Um vinho pontuado é realmente sempre bom?
Pontuações e rankings de vinhos são polêmicos e geram diversas reações. Entenda um pouco como funcionam e como tirar melhor proveito deles, segundo Déco Rossi.
Sou crítico ao endeusamento e à sobrevalorização dos críticos de vinhos e suas pontuações. Robert Parker (Wine Advocate), James Suckling, Jancis Robinson, Tim Atkin, Decanter, Wine Spectator, Descorchados, Revista Adega e principalmente o Vivino, que é um aplicativo que não tem nenhum critério técnico por trás, a não ser o gosto pessoal de quem o usa.
Como funcionam essas pontuações e rankings?
Esses críticos e publicações recebem os vinhos dos produtores ou dos importadores e, com suas equipes, avaliam cada um e atribuem notas, que normalmente vão de uma escala de 80 a 100 pontos. Há casos, como o da inglesa Jancis Robinson, que atribui notas de 10 a 20.
Muita gente diz que a maioria dessas publicações é comercial e acaba dando notas altas a produtores que as patrocinam ou com as quais tem maior proximidade, contudo, isso é algo que não podemos afirmar.
Já existiram fortes indícios, por exemplo, em 2011, de que Jay Miller, importante nome da equipe de Roberto Parker à época e responsável por degustar os vinhos espanhóis, teria recebido dinheiro de Pancho Campo, MW, para dar boas notas a vinhos espanhóis. Nada 100% comprovado, mas Jay Miller, na ocasião, se desligou da Wine Advocate, publicação de Parker.
Acho extremamente importante que existam críticos e publicações que atribuam notas aos vinhos que são degustados, pois a grande maioria dos consumidores não tem conhecimento técnico para ir a fundo numa avaliação e muitos nem querem isso, querem apenas beber seu vinho sem grandes técnicas ou aprofundamentos.
No fundo, isso é o que importa. No entanto, essas notas e avaliações são importantes para balizar consumidores que não têm grande vivência de vinho e querem ter uma ideia se aquele vinho é confiável, tem boa procedência e não vai ser uma furada.
Os consumidores agradecem, mas os produtores também, pois as altas notas a seus produtos criam uma procura maior e isso é comercialmente bom! Porém, que fique claro: o aumento de preço por conta de boas notas não é bacana, atrapalha o mercado e distancia o consumidor.
De todo modo, se é bom para o cliente e igualmente é bom para o produtor do vinho, por que eu sou tão crítico aos rankings e às pontuações?
Minha resposta pode parecer simples e básica, mas é genuína: por que não necessariamente as pessoas que provam esses vinhos têm o mesmo gosto que você, eu ou qualquer pessoa que se interesse por determinado vinho. Então, não é garantido que comprar um vinho de 92, 95 ou 99 pontos será sucesso.
Pode ser que a pessoa que o provou e o avaliou tenha um gosto por vinhos mais intensos, ou mais alcoólicos, ou mais amadeirados, e quem compre tenha um gosto por vinhos mais leves, frescos e sem madeira. Logo, a chance de essa pessoa gostar deste vinho pontuado é mínima.
Sim, a alta pontuação é um bom indício de que o vinho tem boa qualidade. Mas não necessariamente irá satisfazer o gosto pessoal do apreciador.
Outra crítica minha vai aos bebedores de pontos. Cansei de ver gente que só compra vinhos pontuados e arrota aos quatro cantos do mundo que aquele vinho tem 90 e tantos pontos, que foi o melhor vinho do mundo, etc. e tal.
Essas pessoas que usam as pontuações para se mostrar, para mim, são pessoas que estão mais preocupadas em aparecer do que beber um bom vinho. Aliás, muitas vezes, elas nem sabem beber direito, mas têm poder aquisitivo para bancar vinhos caros e bem pontuados.
Outro ponto: não existe o “Melhor Vinho do Mundo”. Aliás, se há algo que me irrita é quando aparecem esses prêmios falando de Melhor do Mundo! Será que todos os espumantes e os grandes champagnes se inscreveram no concurso que avalia espumantes do mundo todo, para que o melhor avaliado (que sim, deve colher todos os louros por isso!!) fale que é o melhor espumante do mundo?
Fale que foi o vencedor daquele concurso, mas não fale que é o melhor do mundo, por favor! Isso é um desserviço ao mercado e aos consumidores.
Portanto, meu posicionamento em relação aos rankings e às pontuações é o seguinte: pontuações e guias são importantes? Sim, muito! Devem ser comemorados e divulgados por produtores, importadores e distribuidores? Sim, muito! Eles melhoram a reputação de produtos e produtores? Sim, muito! Mas não devem ser levados a ferro e fogo, pois, não necessariamente, um vinho bem pontuado cairá no seu gosto. E jamais, jamais deve ser fator decisivo numa compra.
Sair procurando rótulos pontuados apenas por serem pontuados é deixar para trás a história e particularidades de um vinho, em detrimento de uma alta pontuação, que nada vai garantir que o consumidor goste do vinho.
Assim, baseie-se no seu gosto pessoal, nas suas experiências, em que tipo de comida acompanhará o vinho, quem beberá esse vinho com você. As pontuações e os rankings são um meio, não o fim.
Por André Rossi
Déco Rossi é publicitário e desde 2010 se aventura no mundo dos vinhos. Estudou em Nova Iorque no Instituto inglês Wine & Spirits Education Trust (WSet) e hoje é um dos pouco mais de 20 brasileiros com a graduação máxima da escola, o DIPWSet. Apesar dos cursos e conhecimento adquiridos, gosta de levar o vinho de uma forma leve e divertida.
- Texto publicado com autorização do autor.
- Disclaimer: O conteúdo é de inteira responsabilidade do autor. A GastroRosé não se responsabiliza por esse conteúdo nem por ações que resultem do mesmo ou comentários emitidos pelos leitores.
Foto: @moetchandon