Lalou Bize-Leroy, também conhecida como Madame Leroy, é a grande dama dos vinhos da Bourgogne. Seu nome está por trás de alguns dos melhores e mais emblemáticos vinhos da região.
A tradição da família Leroy
O nome Leroy está intimamente associado à raridade e exclusividade e desperta o amor de quem aprecia os vinhos da Bourgogne. Uma das famílias mais tradicionais do setor, Leroy controla 50% da Domaine de la Romanée-Conti, além de produzir vinhos próprios – fruto do trabalho e coragem de Madame Lalou.
O início da tradição da família Leroy se deu quando François Leroy, produtor e proprietário de vinhedos em Auxey-Duresses e de parcelas nobres da Côte d’Or, passou a vender seus vinhos através do Comptoir des Propriétaires de la Côte d’Or, sem sua marca pessoal.
Em 1868, François passou a atuar também como négociant, fundando a Maison Leroy para a expansão de suas atividades, o que se seguiu através dos seus descendentes, que passaram a trabalhar também com destilados e licores, além da produção nas regiões de Cognac e Champagne.
Anos após, em 1942, Henri Leroy adquiriu a parcela de Jacques Chambon na Domaine de la Romanée-Conti, marco histórico e simbólico para a família Leroy, visto que, juntamente com a família de Villaine, foi a responsável pelo posicionamento mundial da vinícola sediada em Vosne-Romanée.
Contudo, mesmo com todo o prestígio e o histórico de négociant da família, o sucesso de Leroy e sua fama se intensificaram de fato nas últimas décadas, quando Lalou Bize-Leroy mudou a história da empresa familiar e adquiriu parcelas em alguns dos melhores vinhedos da região, a partir de 1998.
O grande feito de Madame Leroy
A filha de Henri Leroy, Marcelle, juntou-se à empresa em 1955 e tornou-se Diretora Geral da Maison Leroy em 1971, quando dedicou grande parte de seu tempo também à co-gestão da Domaine de la Romanée-Conti, juntamente com Aubert de Villaine. Em 1992, porém, a Domaine Leroy perdeu os direitos de distribuir os vinhos da Domaine de la Romanée-Conti, e Madame Lalou, como era conhecida Marcelle, deixou a gestão da empresa – mesmo permanecendo como co-proprietária.
A razão que culminou nesse evento foi a decisão da própria Madame Lalou de elaborar e comercializar vinhos próprios, a partir dos recursos advindos da venda de um terço da Maison Leroy à empresa japonesa Takashimaya em 1988.
Após a venda, Madame Lalou decidiu investir em aquisições de vinícolas e vinhedos e criar a Domaine Leroy. No mesmo ano, adquiriu as vinícolas de Charles Nöellat em Vosne-Romanée e de Philippe-Rémy em Gevrey-Chambertin.
Desde então, Leroy se tornou presente em algumas das mais disputadas garrafas de vinhos do mundo, mas não apenas como négociant da Bourgogne.
Atualmente, Madame Leroy é responsável pela Maison Leroy, o Domaine d’Auvenay e o Domaine Leroy.
Na Maison Leroy, Madame Lalou dirige o negócio com todos os seus valores em mente e, portanto, apenas as melhores uvas são compradas. A maioria dos vinhos é feita a partir de uvas provenientes de parcelas onde Bize-Leroy e seu pessoal cuidam das vinhas durante toda a temporada, para garantir matéria-prima da mais alta qualidade.
O Domaine Leroy possui cerca de 23 hectares de vinhedos próprios em alguns dos endereços mais atraentes da Bourgogne como Le Chambertin, Musigny, Richebourg, entre outros. Em 2018, depois de mais de 20 anos de hegemonia, Lalou destronou a Domaine de la Romanée-Conti como o vinho mais caro do mundo, a partir do mítico vinhedo Grand Cru Musigny do Domaine Leroy, comercializado por aproximadamente € 40.000 na colheita de 2015.
Domaine d’Auvenay, por sua vez, é a casa de campo onde Lalou Bize-Leroy mora. A propriedade está localizada nas colinas atrás da encosta dourada de Saint-Romain, onde, junto com o marido, Madame Lalou opera este microdomínio de acordo com princípios biodinâmicos. No total, o domínio tem pouco mais de 4 hectares, tratando-se de uma produção quase microscópica.
Quanto ao Domaine de la Romanée-Conti, até hoje, Madame Leroy detém 25% da empresa, mas não participa nos negócios diários, cuja direção da propriedade é feita por Aubert de Villaine desde 1992.
Os vinhos de Madame Lalou
Em geral, os vinhos produzidos por Madame Lalou são raros, exclusivos, de elevado padrão e com produção bastante limitada. Os preços fazem jus à tal diferenciação e, infelizmente, estão fora do alcance da grande maioria dos consumidores de vinho, até mesmo os rótulos de maior produção, cujo valor médio é de € 360 na Europa.
Mas, são inesquecíveis! Beleza de aromas envolvidos por textura deliciosa e perfeita elegância descrevem os vinhos originados da forma mais natural possível pela grande dama da Bourgogne.
Viticultura de precisão e alto padrão. Cada safra produzida com baixíssimo rendimento e extrema qualidade, refletindo a expressão máxima da uva e de um terroir abençoado.
Tive a grata honra de degustar Leroy Bourgogne Appelation d’Origine Contrólée Négociants às Auxey-Mersault 2015 e Leroy Bourgogne Aligoté Appellation Contrólée Propriétaire à Vosne-Romanée 2009. Mesmo que a experiência ainda seja pequena, posso confirmar que os vinhos são mesmo de arrancar suspiros.
Inspiram e fazem ter ainda mais orgulho da mulher tão à frente do seu tempo, que marcou a história da Bourgogne e que, aos seus 91 anos, segue sendo uma personagem viva e tão poderosa no mundo do vinho!
Por Ana Carla Wingert de Moraes