Não é segredo que a tendência geral do rosa e o rosé sempre foram aclamados por aqui.
O vinho rosé, para mim, sempre foi interessante como estilo, como preço e como ideia no Brasil.
Houve, é claro, um momento de consumo que reverenciou esse estilo de vinho em nível mundial, tanto que Robert Joseph da Wine Business International chegou afirmar que “the colour of money is pink“, quando estudou uma trend lucrativa observada a partir do verão de 2016 e do surgimento do termo “Millenial Pink”.
Nessa época, o rosé estava em toda parte! E os apreciadores de vinho da moda reconheciam o vinho rosé de tonalidade Pale Dogwood imediatamente como a cor dos modernos rosés da Provence. Uma cor mais pálida, inclusive catalogada internacionalmente pela Pantone, que virou febre mundial rapidamente.
Potencializada pelo fenômeno do Instagram, essa tonalidade do rosa se popularizou ainda mais e não era raro ver os usuários da plataforma postando sua própria cena com o vinho rosé “provençal”.
A consequência dessa onda de consumo foi que produtores de vinhos com outros tons de rosa passaram a definhar nas prateleiras, curvando-se à uma demanda linear e com pouca autenticidade, que generalizou o rosé como um vinho frutado, fresco e delicado.
A atual realidade do rosé
A categoria de vinhos, de forma ampla, é uma das mais fragmentadas no mercado. Existe uma quantidade crescente de opções com uma oferta cada vez maior de produtos, rótulos, uvas, regiões e marcas.
Essa oferta é resultado de uma produção que supera a demanda, sem sinais de equilíbrio, e que preocupa. Basta observar as prateleiras das lojas e supermercados para constatar esse cenário.
Voltando ao vinho rosé e à França, responsável por 34% do consumo mundial desse estilo de vinho, líder em produção, importação por volume e exportação por valor, surpreendentemente neste ano, a popularidade do rosé superou a popularidade de tintos no mercado interno.
E essa tendência de crescimento seguiu em todo o mundo, na medida em que a produção de vinho rosé aumentou cerca de 25% em 10 anos, muito mais do que os outros tipos de vinho.
Felizmente também pudemos observar uma movimentação de produção e mercado voltada às peculiaridades de cada uva, de cada terroir, trazendo mais diversidade ao vinho rosé do que se observou anos atrás.
O que preocupa, contudo, é que a produção global de rosés segue crescendo, enquanto o consumo estagnou.
Uma pesquisa divulgada em 2023 pelo Rosé Wines World Tracking aponta que após vários anos de crescimento ininterrupto entre os anos 2015 e 2019, o consumo global de vinho rosé diminuiu em 2020 e recuou em 2021, assim como as importações.
É verdade que esta diminuição de quantidade consumida foi menor para o vinho rosé do que para o vinho em geral, de todo modo, o excedente de produção que vem sendo observado desde o final da pandemia gera preocupação.
Os próximos anos serão de observação quanto à tendência de consumo, mas, ao que parece, a euforia dos rosados pode ter diminuído e o temor do excesso de estoques é cada vez mais real no mercado.
Por Ana Carla Wingert de Moraes
Fonte: Rosé Wines World Tracking. Criado em 2002, é o resultado de uma colaboração entre o Provence Wine Council (CIVP) e a FranceAgriMer. Compila, analisa e divulga dados sobre a produção e consumo de vinhos rosés em 45 países-chave, acompanhando as tendências e desenvolvimentos do mercado em todo o mundo para tomada de decisões estratégicas.
Foto: @maisonmirabeau