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Catena Zapata

por Ana Wingert

A lendária Catena Zapata transformou uma paisagem inóspita da Argentina e uma variedade de uva até então pouco relevante em referência do mercado global.

Foi à partir do sonho de um imigrante italiano que plantou sua primeira vinha de Malbec em Mendoza, seguido pelo legado de seus sucessores, que a região prosperou e hoje é considerada uma das capitais do vinho.

Legado histórico da vinícola e da família

A história da família Catena Zapata se confunde com a própria história do vinho argentino e a vinícola familiar, comandada pela sua quarta geração, segue impulsionando e projetando o país entre os melhores do mundo, sendo atualmente considerada a número um pela World’s Best Vineyards.

Para Catena Zapata, os grandes vinhos começam na vinha. Assim, sua visão é fazer vinhos ricos e inesquecíveis, fiéis ao lugar especial de onde vêm.

Fundada em 1902, a Bodega Catena Zapata da Argentina é conhecida por seu papel pioneiro na ressurreição do Malbec e na descoberta de terroirs de altitude extrema no sopé andino de Mendoza. O vinhedo Adrianna, localizado a quase 1.500 metros de altitude, já foi, inclusive, chamado de Grand Cru da América do Sul.

No entanto, são três etapas marcantes na história do vinho da família Catena Zapata que revolucionaram não apenas a vinícola familiar, mas também a indústria vinícola argentina nos últimos 50 anos.

Primeira revolução: Na adega e nas vinhas.

Quando Nicolás Catena Zapata começou a administrar a vinícola da família em meados dos anos 60, seu avô e seu pai ainda produziam vinhos de acordo com as antigas tradições italianas.

Durante seu período como pesquisador visitante em economia em Berkeley, na Califórnia, na década de 1980, Nicolás teve a oportunidade de vivenciar em primeira mão a revolução do vinho em Napa Valley. Uma nova geração de produtores californianos decidiu produzir vinhos de qualidade igual ou superior à dos franceses.

Os californianos falavam pouco sobre o terroir e sua relação com a qualidade. Concentravam-se na melhoria da gestão da vinha e das técnicas de vinificação.

Para Nicolás isto era algo completamente novo. Mais importante ainda, ele provou vinhos com uma frescura surpreendentemente marcada, fruta intensa e novas notas de carvalho e imediatamente decidiu realizar um projeto semelhante em Mendoza.

Plantou Cabernet Sauvignon e Chardonnay nas regiões vitivinícolas tradicionais da província e realizou um estudo de seleção de Malbec. A primeira safra cultivada com este estilo de vinificação, que Nicolás apelidou de estilo californiano-francês, foi a de 1990, um Cabernet Sauvignon com pequena porcentagem de Malbec – início da história de um cuvée, que se tornaria ao longo dos anos o vinho tinto mais colecionado da Argentina.

A mudança nos métodos de vinificação introduzida por Nicolás Catena Zapata foi “revolucionária” no sentido de que a maioria das outras vinícolas mendocinas rapidamente seguiram essas práticas de vinificação não oxidativas, a fim de reter os sabores das frutas frescas. Abandonaram as antigas tradições italianas e seguiram o estilo californiano-francês (que envolvia o controle de temperatura para proteger os sabores das frutas e o uso de barricas tradicionais de carvalho francês).

Segunda revolução: Altitude extrema.

Os novos vinhos de Catena Zapata fizeram incursões do vinho argentino entre os bebedores de vinho britânicos e americanos. Um dia, porém, Nicolás estava jantando com um famoso enólogo de Bordeaux, Jacques Lurton, que lhe disse: “Excelente vinho tinto, me lembra o Languedoc”. Não era isso que Nicolás queria ouvir.

Languedoc é uma região quente. A implicação era clara: para que o seu vinho rivalizasse com os grandes vinhos da França, ele precisava que as suas vinhas estivessem em regiões mais frescas. Ou seja, a Família Catena precisava respeitar a obsessão francesa que relaciona qualidade do vinho com terroir de origem.

Quando a família decidiu plantar vinhedos nas zonas mais frescas de Mendoza, tinha basicamente duas opções: ir para o sul, em zonas tradicionais como Maipú ou Luján, ou subir a montanha. O pai de Nicolás, Domingo, sempre alertou sobre a ameaça de geadas na zona sul, por isso Nicolás optou por subir e plantar em altitude elevada, na região de Tupungato, a quase 1.500 metros de altitude. Nicolás batizou o novo vinhedo de “Adrianna” em homenagem à sua filha mais nova.

Ao provar os vinhos desta vinha de altitude, os enólogos ficaram realmente surpresos. Eram completamente diferentes dos vinhos provenientes de altitudes mais baixas, especialmente os Malbecs. Tinham cor profunda e escura, eram extremamente macios e aveludados, com complexidade maravilhosa, pH mais baixo e um sabor floral e de frutas vermelhas muito intenso.

Eles primeiro atribuíram todas essas mudanças nos aromas e sabores às temperaturas mais baixas das montanhas. Mas, um estudo aprofundado realizado pela filha de Nicolás, Laura, e pelo Catena Institute of Wine mostrou que os vinhos de maior altitude tinham níveis desproporcionalmente mais elevados de taninos (provavelmente desenvolvidos pelas vinhas para proteger as sementes do sol).

E esses taninos acentuados deram aos vinhos um sabor único – esses vinhos de altitudes extremas tinham um poder, textura e riqueza que nunca haviam sido encontrados antes em Mendoza.

Nenhuma outra região vinícola conhecida tem vinhas tão elevadas em altitude e tão baixas em fertilidade. A ciência precisa por trás dessa alquimia em grandes altitudes ainda é um mistério. Mas, a julgar pelos resultados, Laura Catena acredita firmemente que foi este lugar – este terroir – que lhes permitiu obter os seus melhores vinhos.

Esta foi mais uma descoberta, que levou todos os produtores de vinho de Mendoza a valorizar subitamente terras de grande altitude com acesso à água.

Terceira revolução: As “parcelas” de Adrianna e a ciência da compreensão da natureza

Quando os Catena decidiram experimentar um novo terroir em grandes altitudes, entraram em um mundo dominado pela teoria francesa de que a qualidade depende principalmente do terroir. Segundo os franceses, o fator humano – seja o enólogo ou o gestor da vinha – é irrelevante. A qualidade depende apenas da natureza, do clima e do tipo de solo onde a vinha está plantada. Não há nada que o enólogo possa fazer se a qualidade não vier do local onde se encontra a vinha.

Ao tentar implementar a teoria francesa na Argentina há vários anos, a família fez uma descoberta surpreendente: os solos aluviais de Mendoza não são homogêneos. Ou seja, em uma mesma vinha, em distâncias curtas, existem diferenças físicas e químicas de solo, resultando em lotes ou parcelas de vinha com características únicas.

Como resultado, cada lote de vinha dá origem a um vinho único, com sabores e aromas muito específicos. Essa descoberta levou a família a se aprofundar ainda mais na teoria do terroir e estudo do solo.

A doutora Laura Catena, bióloga formada com louvor pela Universidade de Harvard, decidiu, então, incutir na equipe da vinícola o método de pesquisa e estudo, que chama de “a ciência da compreensão da natureza”.

Com a ajuda do enólogo chefe da Catena Zapata, Alejandro Vigil, de Fernando Buscema, diretor do Instituto e do gerente de vinhedos Luis Reginato, Laura criou o Catena Institute of Wine em 1995, ano em que oficialmente também se juntou ao pai para administrar a Bodega Catena Zapata.

Desde então, a família tem realizado fortes pesquisas com o objetivo de compreender melhor o terroir argentino, as características de Mendoza e estudar todos os aspectos de seus vinhedos com o objetivo final de produzir vinhos argentinos que possam se igualar ao melhor do mundo.

A tarefa de descobrir e estudar os lotes tem permitido aos Catenas alcançar maior qualidade que advém da pureza dos sabores – qualidade que é, no fundo, melhor do que a obtida no conjunto das parcelas. A família chama isso de “revolução dos lotes de vinhedos”.

“Aprofundamos o conceito clássico francês que atribui a qualidade do vinho 100% ao terroir”, afirma Nicolás Catena Zapata. “Na tarefa titânica de fazer vinhos que possam rivalizar com os melhores do mundo, é um passo verdadeiramente revolucionário”, complementa.

Um componente importante do esforço de Nicolás Catena Zapata para produzir vinhos de classe mundial foi reunir a equipe certa. Os nomes principais hoje são: Laura Catena, Diretora Geral e Fundadora e Membro do Conselho do Catena Institute of Wine; Alejandro Vigil, Diretor de Enologia; Ernesto “Nesti” Bajda, Enólogo; Luis Reginato, Gerente de Vinha; e Mariela Molinari, Enóloga e Diretora de Exportação, Europa.

Laura Catena lidera o movimento de vinhos finos na Argentina e, sem dúvida, é a pessoa visionária que levou os rótulos argentinos ao próximo nível e entregou ao pai e à Bodega Catena Zapata o respeito que merecem.

Reconhecimento mundial e premiações de destaque

Aclamada entre os principais críticos do mundo, Jancis Robinson, considera Catena Zapata “o maior e mais confiável nome da Argentina”. Em coerência, Robert Parker afirma que “Catena representa o máximo em vinhos da América do Sul”, o que se reforça pelo apontamento da Wine Spectator de que o produtor é o “líder inquestionável em qualidade na Argentina”.

Premiadíssima, Catena Zapata foi eleita 13 vezes uma das Top 100 melhores vinícolas do mundo pela Wine & Spirits e, em 2020, a vinícola mais admirada do mundo pela revista inglesa Drinks International. Lidera também o ranking dos principais destinos de enoturismo do mundo pela World’s Best Vineyards.

No ano 2022, Nicolás Catena recebeu da Wine Enthusiast o prêmio máximo Lifetime Achievement, em reconhecimento às suas excepcionais contribuições para o sucesso da indústria de vinhos, tornando-se o primeiro produtor sul-americano a receber tal honraria.

No mesmo ano, Laura Catena, filha mais velha de Nicolás Catena e atual diretora da vinícola, recebeu o prêmio Mulher do Ano 2022, concedido pela Drinks Business por seu notável trabalho com a uva Malbec em solo argentino.

Catena Institute of Wine

O Catena Institute of Wine, em conjunto com a equipe de Enologia e Viticultura Catena, tem a ambiciosa missão de produzir vinhos argentinos que possam se igualar aos melhores do mundo e de promover as regiões vinícolas da Argentina por mais 100 anos.

Em colaboração com a Universidade da Califórnia Davis e a Universidade Nacional de Cuyo, o Instituto Catena fornece liderança para os programas de pesquisa e desenvolvimento. Através destas parcerias acadêmicas, o Instituto procura avançar e promover o conhecimento do vinho em benefício dos técnicos de vinho e da comunidade vitivinícola como um todo.

Angélica Cocina Maestra

Inaugurado em março de 2023, o restaurante da vinícola, cujo nome homenageia a mãe de Nicolás Catena Zapata, mostra os sabores autênticos de Mendoza a partir de uma perspectiva moderna.

Com arquitetura inspirada nas vilas italianas, o restaurante segue o conceito de wine-first, no qual o vinho é considerado a peça principal e não apenas um complemento à comida.

A sala de jantar, tão imponente como o resto do edifício, faz parte da adega Catena Zapata em Agrelo, famosa tanto pela qualidade dos seus vinhos como pelo seu design em forma de pirâmide maia.

A cozinha criada pelo chef Iván Azar centra-se em um menu de degustação exclusivo e de inspiração criativa que evolui em várias etapas ou pratos, começando com pequenos e sofisticados aperitivos e passando por pratos com todo o DNA de Mendoza.

Os vinhos da Bodega Catena Zapata são importados ao Brasil com exclusividade pela Mistral e vêm com selo de autenticidade na garrafa para garantir confiabilidade e segurança ao consumidor.

Por Ana Carla Wingert de Moraes

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