Paulo Laureano é um dos mais conceituados enólogos portugueses e uma referência dos vinhos no Alentejo. Sua aposta exclusiva nas castas portuguesas traduz a sua maneira de estar e de encarar o vinho como fator de cultura e civilização.
Com seu carisma nato e muita competência, Paulo Laureano define-se como um enólogo minimalista, que gosta de trabalhar com detalhes, para quem desenhar vinhos é uma paixão: desvendar seus aromas e sabores, avaliar e otimizar as razões da sua identidade e personalidade, promovendo vinhos como verdadeiras fontes de prazer, é o que lhe inspira.
Preocupa-se que em cada garrafa e em cada copo de vinho de sua autoria, exista uma história consistente e aliciante, que conte de forma clara o percurso do vinho, desde a escolha das uvas, a influência do terroir e a paixão que é colocada no seu desenho artesanal.
Agrônomo e enólogo formado em Portugal, Austrália e Espanha, depois de lecionar 10 anos na Universidade de Évora, resolveu dedicar-se, com exclusividade, ao que lhe move desde 1993 – desenhar vinhos.
Nesta trajetória, criou em 1999 sua própria vinícola familiar, empresa que assumiu importância cada vez maior na sua vida e se alinhou ao seu propósito de criar vinhos que refletem o melhor do terroir e das uvas nativas de Portugal, de forma minimalista.
O terroir de origem de seus vinhos
Com vinhas em cinco terroirs distintos de Portugal, Paulo Laureano produz vinhos oriundos da Vidigueira, de Bucelas, Vinhos Verdes e Açores.
- Vidigueira: o extenso Alentejo vitivinícola possui diversidade marcante nem sempre perceptível. Mas, existem regiões produtoras de vinho cuja diferenciação é inegável. Dentre elas, certamente se encontra a Vidigueira, onde a produção de vinho tem mais 2000 anos de história.
Com clima de fortes amplitudes térmicas na fase de maturação das uvas, relevo marcado por pequenas encostas que a distinguem das planícies alentejanas e um solo de xisto único, a região da Vidigueira inscreve uma forte marca de identidade nos vinhos produzidos, distintiva do resto do Alentejo.
É um terroir único que acentua o caráter exclusivo de algumas das suas castas mais características.
Em passagem recente pelo Brasil, o enólogo destacou que “o Alentejo não é uma região homogênea e algumas vinícolas são pedras preciosas, com uvas incomuns. Paulo Laureano fica na Vidigueira e produz vinhos com caráter fresco, apesar do calor da região, com personalidade marcada de uvas nativas da região“.
Paulo Laureano também ressaltou que o Alentejo é uma das regiões mais sustentáveis de toda a Europa e com condições extraordinárias para a produção de vinhos. E, acima de tudo, é uma região cheia de história e cultura, com gastronomia simples, mas também muito rica.
Contudo, embora a maior atividade da Paulo Laureano Vinus esteja no Alentejo, em torno da Vidigueira, o desafio particular de desenhar vinhos em terroirs de excelência levou o enólogo a alguns dos mais emblemáticos locais vitivinícolas de Portugal.
- Bucelas: parte das históricas regiões vitivinícolas do entorno de Lisboa, nos vales de Bucelas as vinhas, exclusivamente de castas brancas, estão plantadas em solos de marga e calcário. Fria no inverno e quente no verão, a região permite excelente desenvolvimento das uvas, protegidas dos ventos do mar pelas encostas dos vales onde estão instaladas. Os vinhos destas região resultam de uma velha parceria de Paulo Laureano com António Paneiro Pinto em Chão do Prado.
- Vinhos Verdes: vasta região virada ao Atlântico, com solos predominantemente de granito, clima ameno e elevada precipitação, Vinhos Verdes permite a produção de vinhos frescos e muito elegantes. Às portas de Guimarães, em torno da Casa dos Infantes, estendem-se as vinhas de Loureiro, a partir das quais o enólogo Paulo Laureano elabora um vinho branco em parceria com a Família Villas Boas.
- Açores: na ilha do Pico, em currais e curraletas, com influência atlântica marcante e em uma zona plena de história, crescem as vinhas protegidas dos ventos e do sal do mar. O solo de basalto confere personalidade e identidade única aos vinhos. Com clima ameno, muita pluviosidade e forte influência do terroir, as castas Arinto, Verdelho e Terrantez produzem vinhos brancos de fino recorte, resultantes da velha parceria entre a Paulo Laureano Vinus, a Curral de Atlantis e a Paulo Laureano Azores.
A filosofia das castas autóctones
A filosofia do desenho de vinhos em terroirs de excelência com castas exclusivamente portuguesas.
Para Paulo Laureano, os vinhos precisam ter identidade e personalidade. Por isso, com bom terroir, solo e clima adequado, o enólogo valoriza uvas e castas que tenham a ver com as pessoas e suas tradições. Ele relata que Portugal é um país muito rico nesse sentido, com uvas autóctones muito bem adaptadas ao clima, aos portugueses e à cultura do país.
“Os vinhos têm que contar uma história, transmitir um sentimento, e é muito mais fácil contar a nossa história através das nossas castas. Esse é um fator determinante para a sobrevivência dos vinhos em Portugal”, narra.
Entre as uvas tintas se destacam Aragonez, Trincadeira, Alicante Bouschet, Alfrocheiro, Tinta Grossa e Touriga Nacional. Nos brancos as uvas predominantes são Antão Vaz, Arinto, Roupeiro, Verdelho, Terrantez e Loureiro.
O perfil gastronômico do vinho
O enólogo igualmente realçou que os vinhos portugueses são extremamente gastronômicos, ou seja, contam com uma capacidade de adaptação enorme e harmonizam com várias tipos de comida. Quanto aos seus vinhos, Paulo Laureano destacou o frescor, que considera tornar o casamento com os sabores da gastronomia ainda mais perfeitos.
Paulo Laureano é importado ao Brasil pela Adega Alentejana e distribuído pela Mise en Place Wine.
Por Ana Carla Wingert de Moraes