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Arinto

por Ana Wingert

Se você gosta de vinhos brancos vibrantes, com acidez viva e de forte caráter mineral, precisa conhecer a Arinto, uma das uvas nativas mais antigas de Portugal. 

As origens da Arinto

A uva é provavelmente originária da zona de Bucelas, ao norte de Lisboa. A primeira menção conhecida da casta foi em 1712 na “Agricultura das Vinhas” de Vincincio Alarte, o primeiro tratado sobre viticultura escrito em Portugal. Isto significa que é uma das castas indígenas (autóctones) mais antigas do país.

Da zona de Lisboa, a Arinto expandiu primeiro para norte, até à Bairrada e depois até à região dos Vinhos Verdes, onde hoje é considerada uma casta bastante relevante.

É conhecida por outros nomes, tais como: Pedernã, Pé de Perdiz Branco, Azal Espanhol, Branco Espanhol e Terrantez da Terceira; e não deve ser confundida com as castas Loureiro, Bical, Malvasia Fina, Sercial ou Tamarez.

Sobre a viticultura

Na vinha, a Arinto é uma uva de brotação e maturação tardia. Seus cachos são vigorosos, de tamanho médio, de cor amarelada, que cresce em cachos muito compactos. Se adapta com facilidade a diferentes condições climáticas, lidando bem com a escassez de água no verão.

Embora seja resistente ao calor e se dê bem em regiões secas, a Arinto é atraente para cigarrinhas, que danificam as folhas, e às vezes suscetíveis à podridão por Botrytis. 

Características da casta

A uva Arinto produz vinhos frescos, vibrantes, de corpo leve para médio, com acidez viva, boa estrutura e textura. Na parte sensorial destacam-se os aromas e sabores cítricos, limão, lima, toranja, maçã verde, notas minerais calcárias e, às vezes, frutas tropicais. Tem grande potencial de guarda.

A elevada acidez é o principal cartão de visita da Arinto, por isso é frequentemente adicionada a vinhos com menor acidez para melhorar os blends, especialmente em regiões quentes e secas como o Alentejo, onde é frequentemente misturada com uvas como Antão Vaz, Fernão Pires, Roupeiro e Verdelho. 

Alguns dos melhores exemplares de vinhos elaborados a partir da Arinto encontram-se na pequena DOC Bucelas, norte de Lisboa, na região da Estremadura. A influência marítima e os solos calcários duros da região resultam em vinhos com bom potencial de envelhecimento e maior complexidade, mas, que podem ser degustados mais jovens. Em Bucelas, a Arinto deve estar presente em 75% do blend, tendo a Sercial e Rabo de Ovelha como coadjuvantes. 

Na DOC Vinho Verde a variedade cultivada em toda a região, embora não seja recomendada na sub-região de Monção e Melgaço. Também conhecida por Pedernã, atinge o seu maior nível de qualidade no interior da região. Os vinhos, blends ou monovarietais, variam de cor cítrica a palha, apresentam aroma rico, desde frutas cítricas e maçã e pêra maduras, até florais. O sabor é fresco, mineral com toque salgado, harmonioso e persistente. Tem grande potencial de envelhecimento.

A Arinto se beneficia de uma maior maceração e longa fermentação a baixas temperaturas. O vinho pode ser envelhecido e atingir um nível de profundidade de aromas e sabores semelhante à uva Chardonnay. 

Embora a maioria dos vinhos de Arinto sejam feitos para serem consumidos jovens, podem envelhecer vários anos e desenvolver sabores terciários mais complexos.

A elevada acidez da Arinto também a torna uma forte candidata para vinhos espumantes.

Pequena seleção de vinhos produzidos em Portugal

Monovarietal ou blend, o que não falta são boas opções de compra de vinhos produzidos com a Arinto. Por isso, vale a pena ter na sua adega alguns vinhos para fazer uma degustação comparativa entre as diferentes regiões.

  • Alentejo: Herdade do Sobroso Arché, Herdade da Malhadinha Monte da Peceguina, Herdade Monte da Cal Vinha de Saturno, Monte da Raposinha Ensaio III biológico, Paulo Laureano Nosso Terroir, Quinta da Fonte Souto Taifa, Quinta do Carmo Reserva, Pêra-Manca e Tapada do Chaves Vinhas Velhas.
  • Bairrada: Doravante, Filipa Pato Dinâmica, Kompassus Private Collection, Marquês de Marialva Arinto Grande Reserva, Medusa Reserva, Osvaldo Amado Raríssimo, Rama Carvalho Grande. 
  • Bucelas: Á Parte Nº 0001, Casca Wines ‘Cabo da Roca’ Reserva, Lés a Lés de Pedra e Cal, Mira do Ó, Murgas, Quinta da Murta Classico e Quinta do Boição Grande Reserva Vinhas Velhas. 
  • Douro: Menhin Grande Reserva, Niepoort Coche e Redoma Reserva, Poças Branco da Ribeira, Quinta da Vacaria Reserva, Quinta dos Avidagos Reserva e Vallado Reserva.
  • Lisboa: Encostas de Xira, Joaquim Arnaud A-MSR, Património Colheita Selecionada, Quinta de San Michel Malvarinto, Quinta de Sant’Ana, Quinta do Gradil e Vale da Capucha. 
  • Vinho Verde: Chapeleiro, Covela, José Ramos Casa de Paços, Manhufe Superior, Monólogo P24, Nat’Cool Drink Me, Quinta da Raza Dom Diogo, Sem Igual Sem Mal e Vila Nova.

Saindo de Portugal

Não é uma das tarefas mais fáceis encontrar vinhos produzidos com a Arinto fora de Portugal, na medida em que a casta tem baixa presença no mercado internacional. Como experiência, porém, se tiver a oportunidade de degustar, segue abaixo algumas opões da Austrália e Estados Unidos.  

  • Austrália: produzidos em Riverland, região localizada no coração de South Australia, com clima quente e solos férteis, experimente o Bassham, Delinquente ‘Hell’, Ricca Terra Small Batch, Terra do Rio, The Other Wine ou Zilzie Platinum Edition. 
  • Estados Unidos: Andis e Cante ao Vinho da Sierra Foothills, Quinta Cruz Pierce Ranch e Shirah de San Antonio Valley. 

Harmonização

Devido à elevada acidez natural da uva, os vinhos com Arinto são ótimos para acompanhar a comida. 

As melhores harmonizações são com peixes mais delicados e pratos com frutos do mar. Mariscos, ostras, vieiras com molho de manteiga cítrica, moqueca de siri, salmão defumado, polvo com páprica doce e batatas, lagostins grelhados, trutas marinadas com alho e limão, bacalhau confitado no azeite ou qualquer prato fresco de lagosta ou caranguejo. 

Comida asiática tende a combinar bem com a Arinto. E também o Fish & Chips, prato tradicional britânico feito com peixe empanado e frito, geralmente bacalhau ou haddock, acompanhado por batatas fritas grossas. 

Outras opções de harmonização incluem saladas levemente temperadas (experimente colocar algumas lascas de bacalhau), antepastos marinados e vegetais grelhados. 

Se estiver pensando em queijos, de forma geral os frescos de cabra e ovelha proporcionarão uma excelente experiência.

Por Olavo Castanha

Olavo Castanha é formado em Marketing e atua no mercado de bens de consumo há 30 anos. Formado em Enogastronomia pela ICIF – Italian Culinary Institute for Foreigners e Sommelier pela Associação Brasileira de Sommeliers – SP, atualmente se prepara para a próxima fase da Court of Master Sommeliers Americas.

  • Texto publicado com autorização do autor.
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Foto: Vinho Verde Wines

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