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Carnaval e vinho

por Ana Wingert

Dionísio, ou Baco para os romanos, uniu carnaval e vinho em uma verdadeira alegria universal, igualando através da celebração deuses e classes sociais distintas.

Desde sempre o vinho foi a combinação perfeita para a folia e agora vou te contar a razão.

Um pouco de história antes da descontração

O deus do vinho, da agricultura, da fertilidade e da folia foi sem dúvida uma personalidade marcante. Ao mesmo tempo que cultuava o vinho como elemento sagrado, divertiu-se e tornou grandiosa a maior festa do mundo.

Segundo a mitologia grega, o único deus de Olímpia filho de uma mortal, viveu anos em uma caverna distante da cidade fugindo do fardo de ser filho de Zeus e de sua amante, a princesa Sêmele.

Ao crescer, Dionísio espremeu cachos de uvas maduras de uma vinha da região e descobriu a arte de fazer vinho. Tomando o suco da uva madura e fermentada, descobriu algo saboroso e que lhe dava alegria de viver.

A partir disto, o deus grego quis compartilhar e proporcionar à todos o prazer da bebida e foi quem ensinou a arte do vinho e do cultivo da uva pelo mundo, além de unir opostos nas celebrações da fertilidade e produtividade agrícola.

Voltando da Ásia para Tebas, sua cidade natal, iniciou uma série de celebrações, cultuando a si próprio. E essas festividades foram a origem do que hoje é o carnaval.

Costume dos cultos agrários da Grécia Antiga, as celebrações pela fertilidade da terra eram constantes, mas foi Dionísio quem as deu proporções incomparáveis, que se tornaram parte do calendário oficial.

Anos mais tarde, os romanos sucederam os helenos e assimilaram grande parte da sua cultura, momento em que as festas dionísicas também passaram a fazer parte das comemorações romanas.

As comemorações foram ganhando novas formas e proporções de acordo com os povos que a dominavam e, em 509 d.C. a Igreja Católica oficializou a festa no formato atual que conhecemos do Carnaval Cristão.

De acordo com a tradição romana, o deus Baco morria no inverno e renascia em toda primavera, e os cortejos realizados em celebração ao seu renascimento ocorriam sempre na época da colheita da uva, para garantir e cultuar uma safra abundante.

O primeiro ato se dava no final de dezembro, com o intuito de cultuar a fertilidade das terras. O corpo de Dionísio (na forma de cachos de uva) era desmembrado e pisado durante a vindima, quando os mortais comemoravam e pediam saúde às terras em que estavam as videiras. Por sua vez, em fevereiro, quando acontecia o Festival de Lenaia, o momento era de abrir as jarras de fermentação e provar o vinho novo.

Deus do êxtase e do vinho, bebida que Baco acreditava ser inspiração aos homens para a arte e para aliviar as tensões cotidianas, as festas dionísicas criaram um conceito agregador, de maior liberdade, transgredindo à época as separações sociais.

O uso de máscaras e disfarces, aliás, simbolizava essa inexistência de classes sociais, tornando-se a celebração em torno do vinho a única que igualava deuses e homens de distintas classes. Maravilhoso!

Vinhos para combinar com o carnaval

Fevereiro chegou, o carnaval está batendo na porta e a Páprika me convidou à falar sobre vinhos para o carnaval!

Ainda que no Brasil o consumo de vinho ainda esteja longe das proporções dionísicas no carnaval, certo é que nossa bebida preferida vem ganhando espaço.

Por isso, seguem algumas ideias de vinhos para combinar.

  • Para o carnaval, com altas temperaturas, a dica é pensar leve! Roupas leves, comidas leves e, é claro, vinhos leves. Vinhos com boa acidez, refrescantes, fáceis de tomar e de combinar com momentos e comidas mais descontraídas.
  • Se for curtir praia, piscina ou bloquinho, aposte nas novas embalagens. Dê chance para vinhos em lata, use taças de acrílico e evite riscos com as garrafas de vidro. Evite também muito tanino, corpo, álcool e madeira. Vinhos mais leves, menos alcoólicos e tânicos são o par perfeito para a ocasião.
  • Espumantes com menor quantidade de açúcar são mais fresh, não cansam o paladar e garantem boas horas de prazer e refrescância. Uma boa pedida é o Brut ou Brut Rosé. Ou quem sabe até um vinho para beber com gelo, que tal?
  • Os vinhos brancos leves são meu xodó para a estação (para o ano todo, confesso). Frescos, alegres, com bastante acidez e delicados. Indico as uvas Sauvignon Blanc, Albariño e Vinhos Verdes. Três apostas distintas que vão te encantar muito.
  • Rosé é um vinho que para o mercado brasileiro é muito importante. É interessante como estilo, como preço e como ideia. Sua versatilidade pode passar nas nossas taças em muitos momentos, sobretudo no calor e no carnaval, quando o estilo único do rosa ganha um brilho ainda mais vibrante.
  • Não precisa ser só branco, rosé e espumante. Se você não abre mão dos tintos, escolha uvas mais leves: Pinot Noir, Gamay Nouveau e até mesmo um Vinho Verde tinto para surpreender.

Vinhos mais leves e com mais acidez, além de perfeitos para serem consumidos sozinhos pelo frescor, acompanhando ou não um prato de comida que também tende à ser leve na estação, podem ser utilizados em coquetéis, com bebidas destiladas e frutas, que são a cara do carnaval. Mas, isso é assunto para um outro momento… que em breve volto contar.

Enfim, independente de onde você vai passar o carnaval (na Avenida, em casa, nos bloquinhos ou em Salvador), com certeza vai existir um vinho para chamar de seu durante estes dias.

E eu, é claro, estou animada para ver o vinho brilhar na maior festa do mundo!

Por Ana Carla Wingert de Moraes

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